Veja-se o último jogo do Sport contra o Corinthians. O Leão estava na Z4 e, o Timão, na Libertadores da América. A desproporção era grotesca, infamante; parecia um pugilista bem treinado contra um moleque de briga de rua. Eis a verdade, meus amigos: existem certas situações em que a derrota não machuca tanto. Há certas batalhas que não é desonroso perder. No futebol há partidas que, perdidas, dão a sensação de se estar deixando escorrer preciosos pontos por entre os dedos da mão. Por outro lado, há rodadas das quais já se espera que não sairá nada mesmo. Essa era a opinião geral rubro-negra sobre a 24ª rodada do Brasileirão. Ninguém achava que iria sair nada para Pernambuco naquele sábado.
Mas há vários fatores que influenciam uma partida de futebol. E o Corinthians, velho freguês do Sport, deveria ter se lembrado disso antes de descer em Pernambuco com a arrogância paulistana que lhe é peculiar.
Foto: ge (MarlonCosta/Pernambuco Press) |
Porque começou a partida e foi uma carnificina. Ninguém segura uma besta desenjaulada. O Sport calmo, frio, sereno, de uma serenidade psicopata, de uma frieza assassina, de uma calmaria de filme de terror. O Corinthians não se encontrava em campo e, por outra, aquele campo não era mesmo o lugar dele. Sim, amigos, a Arena Pernambuco rejeitou o Corinthians desde o primeiro minuto em campo. Basta ver como o time não conseguia desenvolver os lances, evoluir as jogadas, chegar até o adversário. Parecia que o Corinthians jogava não sobre um gramado, mas sobre um campo de espinhos, sobre uma vegetação densa e fechada que a todo momento se enroscava por suas pernas e o impedia de avançar.
Já o Sport estava em campo aberto, horizonte limpo, verdadeiro Rei da Selva dominando, imponente, a grama verde de São Lourenço da Mata. Já no primeiro campo abriu o placar, com um golaço de cabeça, logo em seguida anulado por um desses erros grotescos de arbitragem que nos fazem sinceramente perguntar para quê é que existem auxiliares nos campeonatos -- se, quando aparecem, marcam esses impedimentos sem pé nem cabeça. Mas nem mesmo isso abalou a moral do Leão, que seguiu dominando o jogo como se a arbitragem fosse, tão-somente, apenas mais um jogador alvinegro contra quem se tivesse que bater.
E, ao final, o gol, a glória. Belíssima tabelinha de Marcão com Mikael na entrada da grande área; depois Paulinho Moccelin recebe a bola do lado esquerdo, livre como um anistiado, leve como um quadro de Monet, solto como uma besta selvagem saltando sobre a presa. Foi um chute metódico, melódico, meteórico: meus amigos, naquele chute estava todo o eco do grito do gol contra o Grêmio de duas rodadas atrás. Eis a verdade: o Sport venceu o Corinthians lá em Porto Alegre. Aquele primeiro gol após dois meses de jejum foi um gol titânico, um gol com que se dava para vencer vários jogos. E estamos vendo, nas últimas partidas, os revérberos da Arena do Grêmio.
O Leão está imbatível. São seis gols em três jogos -- e isso sem contar o gol anulado de Sabino. É o único time do Brasileirão que conta, atualmente, com três vitórias seguidas. A fera está desembestada, infrene, em sua melhor forma. Que venha o Cuiabá.
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