Ilha do Retiro, fim de tarde de um domingo chuvoso. Os torcedores rubro-negros se encaminhavam para o estádio cabisbaixos; parecia que não tinham lá tanta esperança assim na boa apresentação do elenco. O Sport, derrotado por 3 x 1 em Campina Grande, precisava agora vencer o jogo de volta a todo custo -- e com no mínimo dois gols de vantagem.
Não era muita coisa, porque dois a zero é placar que a gente alcança assim como quem brinca em um prado verdejante sob o céu azul de abril. Havia contudo um certo temor de que time metesse os pés pelas mãos mais uma vez; havia a imagem assombrosa dos maus resultados recentes a pesar sobre a cabeça dos dezoito milhões de rubro-negros que acompanharam ontem as quartas-de-final da Copa do Nordeste.
Mas o medo era vão. O Sport é na verdade um time que sempre se reinventa, que sempre surpreende; um time que não conhece má fase que dure mais do que umas poucas partidas de parca importância. O Glorioso estava ontem disposto a jogar com garra e coragem aquelas eliminatórias. A fera entrou em campo como verdadeira máquina assassina, sedenta por eliminar o adversário. Ontem até mesmo o céu carregado recifense abriu-se para ver o Sport jogar. E que espetáculo aquele céu de abril presenciou!
O Glorioso não deu descanso, e em quinze minutos já tinha enfiado dois gols no time visitante: a raposa assustada nem teve tempo de perceber a fera que se lançava sobre si. Não era chegada nem a metade do primeiro tempo e já a vantagem do time campinense estava revertida. Se o jogo acabasse ali, o Sport estaria já nas semifinais.
Mas aí seria pouco. Se o Sport houvesse metido apenas aqueles dois gols industriais dos primeiros minutos seria pouco, e os dezoito milhões de rubro-negros haveriam saído de casa por pouca coisa, e o céu de abril recifense ter-se-ia aberto por quase nada. Era preciso mais, um lance de genialidade, um arroubo de craque, uma jogada homérica, de deixar boquiabertas as musas do Parnaso. Era preciso, enfim, um lance à altura do sagrado manto rubro-negro.
E ele veio. Impávido que nem Muhammad Ali, tranquilo e infalível como Bruce Lee: Diego Souza parecia um Mercúrio alado divertindo-se em campo aberto.
O Sport subia. Rogério chutou. A bola desviou na zaga e, de repente, estava fora de alcance de Diego Souza. Mas ele não se importou com isso e nem sequer pestanejou ao ver a bola passando alta demais, longe demais dos pés dele. Em um lance de gênio Diego Souza voou de costas para o gol: se a bola não me vem às chuteiras, há de ter pensado o craque naquele momento inefável, minhas chuteiras vão buscar aquela bola. O corpo dele fez um movimento impossível e, qual acrobata experiente, sem nem olhar, mandou a bola milimetricamente para o fundo da rede do Campinense. Foi uma apoteose. Um golaço de bicicleta. Estava enterrada a raposa.
A partir daí foi só festa, aqueles pênaltis foram só protocolares. O Leão classificou-se naquele gol de Diego Souza, que há de ganhar desde já o troféu de gol mais bonito da copa, das copas do Nordeste todas. Sim, quem tem um gol daquele não precisa de mais nada. Agora é só levantar a taça.
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