O futebol é um esporte de equipe. Não se fala aqui, porém, apenas do time formado pelos onze jogadores em campo; a equipe é muito mais ampla e inclui outras figuras, outros personagens, uns mais evidentes, outros mais ocultos, todos, porém, que cooperam, implícita ou explicitamente, para o resultado final. São vários os atores que, em união, em harmonia, em sincronia, cooperam para que o time jogue bem ou jogue mal, ganhe ou perca, honre o manto do clube ou o envergonhe.
Há sem dúvidas o elenco, que é quem joga os jogos, quem entra no campo para trabalhar a bola. Mas há também a equipe técnica, que prepara o elenco, que o mantém em forma, capacitado para as lides esportivas -- em última análise, para fazer gols e não os levar. Há a torcida, que empurra o time para frente, que lhe dá o ânimo necessário para completar o que falta à habilidade com a bola: todo mundo sabe que o futebol exige mais do que a simples capacidade técnica, a pura habilidade física dos craques. O futebol não é e nem nunca foi função direta do nível dos jogadores, e é isso que o torna tão fascinante. O futebol é como a vida: às vezes fazemos tudo certo e as coisas dão errado, ao passo em que às vezes, mesmo no auge do nosso desleixo, parece que o Universo conspira por nós e as coisas acontecem em nosso favor.
E há, claro, além de tudo isso, a moral do time, a sua história, o seu simbolismo. E no caso do Sport esse aspecto adquire o primor de uma obra de arte. É o respeito obsequioso que a mera menção ao seu nome evoca. É o frio na barriga e o temor que o adversário sente ao vê-lo entrar em campo. É o pânico provocado pelo grito de guerra da torcida. É, em suma, a própria força, aliás, bruta e sobre-humana, que exala do uniforme rubro-negro, de um padrão ao qual já se impregnaram o suor e o sangue, a adrenalina e a testosterona de tantos jogadores que, ao longo dos anos, degrau a degrau, conduziram o Glorioso aos patamares elevados do alto dos quais ele hoje pode olhar para seus adversários de cima pra baixo. Sim, a camisa rubro-negra é por si só um talismã: ela é envolta dessa aura mágica que resplandece em torno aos heróis nos quadros de cavalaria.
Se o nome do time não falta e não pode nunca faltar, o que explica os maus resultados do Sport? São vários os personagens, eu dizia, que cooperam para o resultado das partidas: e para que a vantagem conferida pelo sagrado manto rubro-negro não seja eficaz os outros atores precisam fazer um esforço muito grande para conseguir sabotar o time.
Primeiro o elenco. Não o digo tanto desestimulado, porque estímulo maior não há do que a honra de envergar em campo as cores do Leão; mas despreparado, sim, uma vez que, ao que parece, os jogadores não estão aptos a realizar os feitos de que o time hoje precisa. A camisa não joga sozinha; verdade seja dita, parece até que ela tem feito isso nos últimos jogos, mas até para o mítico padrão rubro-negro há limites. Os jogadores também precisam ajudar um pouco.
Depois o técnico. Ele não se entende com a torcida e nem com o time; essa semana mesmo noticiou-se a sua saída, aparentemente para treinar algum time paulista. Ora, como pode o treinador dedicar-se ao time daqui se já se prepara para assumir o time de lá? E até outra: se ele não dá conta de preparar o time que já conhece, com o qual já trabalha, o que leva a crer que será capaz de pôr em forma o que só vai conhecer agora? Sem uma liderança firme até os melhores acumulam malogros. Até Tróia caiu pela fraqueza de Príamos, a despeito da solidez inexpugnável de suas muralhas.
E há por fim a torcida -- será que há? Onde está a torcida? Onde estão os dezoito milhões de rubro-negros? Onde está a força dos torcedores, historicamente responsáveis por carregar o time contra todas as adversidades, tradicionalmente capazes de empurrar o elenco para as vitórias mais difíceis? Porque os campos têm se mostrado verdadeiros desertos. Vez por outra uma grande bola de feno é vista, melancolicamente, rolando pelas arquibancadas. São mil torcedores, dois mil gatos pingados -- o que é isso? Como é possível que o time jogue se ninguém o vê jogar? Como é possível que o time faça uma boa apresentação se não há espectadores para os quais apresentar?
O futebol é um esporte de equipe e cada um tem que fazer a sua parte. Os jogadores têm que jogar melhor do que vêm jogado até agora; a equipe técnica tem que treinar os jogadores com mais qualidade do que tem feito até então; e a torcida precisa torcer melhor do que vem torcido. Basta isso. Porque a camisa, senhoras e senhores, o sagrado manto rubro-negro, é o único que já vem fazendo tudo o que precisa. É quase como se fosse ele a carregar sozinho o time nas costas. O vermelho e o preto do uniforme já estão fazendo a sua parte: e, em todo jogo, antes de qualquer má apresentação, o padrão rubro-negro, sozinho, já reveste os jogadores do Sport de uma aura de campeões.
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