Ora, o resultado é sem dúvidas importante. É o resultado que conta pontos na tabela, que abre ao time o acesso aos estágios mais avançados das competições, é o placar final, em suma, que determina praticamente tudo. Mas não se pode cair na tentação fácil de imaginar que o resultado deva ser buscado a qualquer preço, ao sacrifício da beleza e do espetáculo. É preciso ganhar sim, mas é preciso também ganhar bonito. E vou até mais além: há certas situações em que mais vale preocupar-se com a beleza do jogo do que com a vitória. Afinal de contas é futebol, e não Olimpíadas de Matemática.
Veja-se o Sport, ou melhor, vejam-se dois jogos recentes do Sport. O primeiro deles contra o Coritiba, na Ilha do Retiro. O Coxa abriu o placar ainda no primeiro tempo, em um lance de sorte, em uma jogada nojenta. Abriu o placar e, naquele gol mal feito, julgou já ter cumprido as suas obrigações futebolísticas. O que se viu na etapa complementar, então, foi um espetáculo patético. O time visitante fechou-se como uma seita. Pareciam haver não vinte, mas duzentos jogadores na retranca do Coritiba. Um observador desavisado poderia sair com a impressão de que havia mais camisas do Coxa na área de defesa do que nas arquibancadas do estádio, e sua impressão não estaria muito longe da verdade.
O Coritiba saiu com a vitória -- mas a que preço? O de ter dado aquele espetáculo maçante no segundo tempo? O de ter praticamente impedido o jogo com seus chutes para longe, seus toques de lado, suas bolas recuadas? Muitos espectadores que sofriam de insônia devem àquela partida uma melhora súbita na sua condição: o jogo estava tão monótono que os torcedores adormeciam nas arquibancadas. Um deles quase chegou a cair. Foi uma coisa verdadeiramente lamentável; se os campeonatos fossem mais organizados, um time responsável por esta atitude antidesportiva corria o risco de ser sumariamente eliminado da competição. Afinal, recusar-se a jogar é também uma forma de não querer competir.
Veja-se, agora, o extremo contrário. O Glorioso jogou anteontem contra o Fluminense. Abriu o placar logo no início do jogo, aos dez minutos do primeiro tempo. Um time pequeno teria aproveitado a oportunidade para se retrancar completamente; um elenco que não tivesse amor próprio poderia ter, naquele mesmo momento, recuado trinta e três jogadores e transformado a área rubro-negra em uma feira intransitável, em um congestionamento de pernas e corpos onde não se anda e muito menos se joga.
Foto: Blog do torcedor |
Mas o Sport tem um nome a defender e uma reputação a zelar. O Sport fez um gol e não recuou; ao contrário, lançou-se para cima do Fluminense com uma ferocidade raras vezes vista. Nem parecia que o time carioca tinha mando de campo: o Leão estava tão senhor de si como se estivesse em plena floresta -- e os tricolores, desbaratados, olhavam de um lado para o outro sem conseguir acompanhar os movimentos mortíferos do Leão. Aquilo foi um verdadeiro passeio. Com uma segurança de campeão, os passes milimétricos, o contra-ataque fulminante, os chutes precisos: a verdade é que o Fluminense praticamente não jogou naquele primeiro tempo. Foi só sufoco e olé: o Leão, majestoso, encarava o adversário de alto a baixo, impondo o terror e reinando absoluto.
Que importa que no segundo tempo o time da casa tenha conseguido reagir? Deveria porventura o Leão ter agido como o velho Coxa e, após o primeiro gol, ter se fechado na retranca absoluta? O Coritiba pode ter ganho fora de casa; mas só o Glorioso ousou jogar no campo adversário, jogar com desenvoltura e ousadia, jogar o futebol que apenas os grandes times são capazes de jogar. Um time ganhou sem jogar; o outro, jogou sem ganhar. A situação do Glorioso é bem melhor. Por não ter sacrificado a própria honra, a tabela do campeonato haverá de reconhecer o valor do Sport -- e haverá de lhe recompensar à altura.
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