segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Tudo volta ao normal nos campos recifenses

O grande papel do futebol talvez seja o de mostrar a capacidade de superação. O de escancarar a possibilidade de mudanças, de reviravoltas, mesmo diante das maiores adversidades, mesmo quando tudo parece não ter mais jeito. Trata-se de um esporte onde o esforço se valoriza e se recompensa e mais: é esporte onde todo o suor que se derrama é de algum modo sempre recompensado.

O clássico de ontem revelou bem isso. Não estava o Leão em seus melhores dias; o Glorioso estava em uma fase que não fazia jus à sua majestade. Perdera do Santa Cruz pela Sul-Americana e fora derrotado pelo Corinthians em uma das talvez piores apresentações do elenco. Vinha de duas derrotas, do descaso da torcida, da falta de perspectiva na competição. Mas domingo era dia de clássico -- e que clássico! Era preciso fazer bonito, era preciso jogar para a torcida, preparar-lhe um agrado, encher-lhe os olhos.

E o Sport fez bonito. Fez bonito como há muito não fazia, manchado que estava o padrão rubro-negro pelas derrotas sofridas, este ano, nas mãos do rival. Fez bonito e de certo modo lavou a honra leonina, liberando o grito de vitória que estava entalado na garganta de dezoito milhões de rubro-negros.

Foto: Diário de Pernambuco

A minhoca do canal tentou se levantar; uma patada do Leão derrubou-a por terra -- mostrando que lugar de minhoca é com o rosto no chão mesmo. O jogo de ontem restabeleceu a ordem futebolística pernambucana: mais uma vez o Sport foi implacável, mais uma vez o santinha levou uma lapada. Tudo volta ao normal nos campos recifenses.

Por duas vezes o Sport esteve atrás no placar; por duas vezes não desistiu, não baixou a cabeça, correu atrás e recuperou a vantagem. E nem precisou de todos os noventa minutos: na verdade o primeiro tempo foi quase todo entregue, de bandeja, à satisfação tricolor. O Santa Cruz abriu o placar logo no começo do jogo, e daí até o fim da etapa inicial foi somente um mar de rosas para os visitantes. O Leão, predador terrível, preparava o bote. Cansava a presa e preparava o ataque.

Porque foi no segundo tempo que tudo aconteceu. Parece até incrível que tanta coisa pudesse acontecer em uma etapa complementar somente; os quarenta e cinco minutos foram poucos para tantos gols. Aos quatro minutos, dois a zero para os visitantes; aos vinte e cinco, dois a dois. Aos vinte e sete três a dois para a cobrinha; aos trinta e quatro, tudo igual na Ilha do Retiro. "Tempo de sobra pra virar", um amigo profetizou a meu lado.

Parecia que ele já sabia. Aos quarenta e quatro, quatro a três para o Glorioso; enfim, aos quarenta e seis, Everton Felipe consagrava a goleada. 

Cinco a três -- e o Santa Cruz até agora está desorientado, procurando quem o atropelou. Sentiu o gosto da vitória durante quase o jogo inteiro! Mas o Leão é o rei da floresta, e lugar de cobra é rastejando no chão. Ontem foi o jogo que fez tudo voltar ao normal. De novo os times pequenos da cidade apanham nas mãos dos grandes. De novo a competência, a garra e a dedicação são recompensadas. De novo a excelência se impõe sobre o amadorismo. De novo e mais uma vez o Leão ergue um troféu sobre o cadáver inerte da cobra coral.

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