São tolos os que debocham da má campanha rubro-negra. A zona de rebaixamento não é capaz de diminuir o Sport, como um rei acamado não perde a sua majestade. A realeza é maior que a doença; o Sport é maior que o Z4. Ao contrário até: nada mais mortífero do que um leão no fundo do covil. Nada mais temível que a fera saindo ao ar livre.
No jogo de ontem o Glorioso fez jus ao nome, honrou o sagrado manto rubro-negro que lhe cobre os ombros e esteve à altura do leão majestoso que ostenta no escudo. Era na Ilha; a torcida empurrava o time para a vitória que, somente ela!, interessava àquela altura. Era vencer ou vencer. Os torcedores queriam 2 x 0; em consideração à torcida, o time abriu logo dois gols de vantagem na primeira etapa. Era a apoteose há muito aguardada.
Seria? Dizem que uma ducha de água fria é capaz de esfriar os ânimos e tornar inexequíveis os grandes feitos que, um instante atrás, estavam na iminência de serem conquistados. Não sei que água fria jogaram nos jogadores pernambucanos, não sei se o elenco antecipou a ida ao vestiário. O que sei, que é o que todo mundo viu, é que o time voltou outro, macambúzio, acabrunhado. Nem parecia o Leão da Ilha, confortavelmente instalado em seu trono do Retiro, cercado por seus súditos dispostos a matar e a morrer por ele. Tomou um gol logo ao início do segundo tempo; nem bem chegava a etapa complementar à sua metade, já entregava o empate. Silêncio. Decepção. Medo. Haveria a vitória de escorrer, assim, por entre as garras ferozes do Leão?
É nas dificuldades que o valor resplandece. A torcida não deixou o Leão se abater e, em uníssono, em milhares de vozes, empurrou o time para frente. O time não deixou a torcida gritar em vão e, com coragem, com garra, com determinação, lançou-se sobre o visitante. Lançou-se com a ousadia de um soldado, com a fúria de um gigante, com a altivez de um rei em guerra.
E a sua majestade se impôs. A Ilha do Retiro lotada se impôs. O sagrado manto rubro-negro se impôs. Desbaratados, os gaúchos sequer perceberam o que caiu sobre eles, a fúria veloz do meio-de-campo rubro-negro, a rapidez feroz de seu ataque devastador. O jogo acabou com a mesma vantagem que o Glorioso detinha ao final do primeiro tempo. Até agora o tricolor gremista está atordoado, tentando entender o que aconteceu, perguntando-se quem o atropelou.
Uma má fase de um time dura até que seja substituída por uma fase boa; no caso de um grande time, pode-se dizer que dura até que ele decida lhe pôr fim. Para o Leão ser grande basta-lhe ser quem é. Basta-lhe apresentar-se em campo de cabeça erguida, olhar determinado, passo seguro: o seu porte se impõe por si só. São vantagens que os times pequenos desconhecem. Disso o Brasil pôde ter um vislumbre no dia de ontem.
A fera está viva. Tremei.
Este é um texto de um verdadeiro apaixonado pelo Sport Club do Recife. Parabéns Zuêrio! Muito obrigado por compartilhar tão sábias palavras e nos fazer partícipes deste momento único.
ResponderExcluirVida longa ao Blog do Zuêrio!